No Sertão de Alagoas estão cinco povos indígenas Geripankó, Kalankó, Karuazu, Katokinn e Koiupanká. Tributários do tronco Pankararu, fugiram do Sertão pernambucano em direção ao estado de Alagoas, nos estertores do século XIX, quando se intensificaram as violentas investidas sobre as terras do antigo aldeamento de Brejo dos Padres. Durante a maior parte do século XX foram impedidos de acessar e cultivar a terra, bem como de manifestar livremente suas práticas culturais. Silenciados e dispersos por décadas, decidiram assumir sua condição étnica entre o último quartel do século XX e o início do século XXI, protagonizando retomadas de terras e expressando, publicamente, seus vínculos étnicos, em meio a uma região marcada pela histórica violência, engendrada pelo mando oligárquico local. Contudo, até a presente data, não possuem suas terras demarcadas integralmente, o que acarreta uma situação de instabilidade fundiária, altamente perigosa à preservação da vida dos indígenas e absolutamente desafiadora à luta pelo território. Convivendo em minúsculas glebas de terra (minifúndios), insuficientes para assegurar sua reprodução social, parte desses indígenas, sobretudo, homens, integra periodicamente os fluxos de mobilidade espacial do trabalho, uma superpopulação relativa que se direciona para a venda da força-de-trabalho no corte da cana, na Zona da Mata de Alagoas, ou para outras plagas do país. Os territórios são reivindicados como sinônimo de vida, elemento indispensável à reprodução da condição indígena, e suas territorialidades deitam raízes no tronco Pankararu, pois seu universo cosmológico guarda íntima relação com o caroá e com a metáfora da semente, não obstante suas ressignificações. Nesse sentido, interessa-nos na presente investigação a análise do contexto histórico da emergência dos povos indígenas do Sertão de Alagoas e suas lutas contemporâneas pelo direito aos territórios e à manifestação de suas territorialidades. Compreendemos tratar-se de um processo em aberto, inacabado, como é a própria história, em que esses povos do Nordeste brasileiro seguem contrariando os estereótipos e os paradigmas da narrativa oficial para se afirmarem enquanto povos diferenciados e dotados de singularidades. As linhas que seguem baseiam-se em quase dois anos de aproximação, pesquisa e convivência extensionista com os indígenas do Sertão alagoano. O texto está ancorado numa reflexão teórica, que revisa parte importante da literatura científica acerca do processo de resistência às recorrentes tentativas de invisibilização étnica. Ademais, está conectado aos dados e às informações da pesquisa empírica, provenientes das interlocuções com os indígenas, e dos levantamentos junto aos órgãos estatais. Esperamos que as considerações contribuam para atualizar e amplificar as discussões sobre os povos originários no âmbito da Geografia.
Palavras-chave: território, territorialidade, indígena, resistência
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