DECIFRANDO AS MEDIDAS DE ESTÍMULO AO AGRONEGÓCIO, A PARTIR DO GOLPE DE 2016: BREVE ANÁLISE DE SEUS IMPACTOS NO ESPAÇO AGRÁRIO DE ALAGOAS
Lucas Gama Lima¹ – UFAL
lucas.lima@delmiro.ufal.br
Flávio dos Santos² – UFAL
flavio.geografiaufal@gmail.com
GT 4 - Campesinato e Agronegócio
RESUMO
A recomposição das frações da classe dominante brasileira, consignada no golpe de 2016, aprofundou a ofensiva do capital sobre o espaço agrário. Trata-se de um movimento dialético assinalado por continuidades e rupturas que impulsiona o agronegócio e potencializa os conflitos no campo brasileiro. Os preliminares desdobramentos desse movimento começam a se delinear e tendem a recrudescer o espaço de riqueza e miséria e amplificar os conflitos por terra/território e água no quadro agrário do país e, destacadamente, em Alagoas.
PALAVRAS-CHAVE: Capital, Agronegócio, Reforma Agrária, Golpe.
1. Introdução
O artigo tem como propósito analisar a ofensiva inicial do capital no espaço agrário brasileiro como desdobramento do golpe de 2016. Compreende-se que não obstante as políticas macroeconômicas conservadoras vigentes no país, há mais de duas décadas, o impedimento institucional da presidente Dilma decorreu uma recomposição das frações da classe dominante brasileira como tentativa de resposta autocrática à crise do capital.
Desse modo, a recomposição das frações da classe dominante brasileira legitima a ofensiva do capital, que tende a recrudescer e lançar toda sorte de expedientes em favor do agronegócio, galvanizando um espaço de riqueza e miséria num patamar sem precedentes. Por meio de uma análise dialética se buscará nesse pequeno ensaio analisar brevemente a formação socioespacial brasileira e seu desapreço à reforma agrária, bem como, identificar as contradições subjacentes à ofensiva do capital no campo brasileiro – cristalizadas nas primeiras medidas institucionais tomadas – com o golpe de 2016. Será feito igualmente um esforço em identificar os primeiros desdobramentos sobre a estrutura agrária de Alagoas, indicando dados e informações que apontam para um aumento das desigualdades e conflitos no quadro agrário da segunda menor unidade da federação.
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¹ Professor Adjunto do Campus do Sertão/UFAL. Membro do GPECT. Coordena o Grupo de Estudos em Geografia do Trabalho, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Análise Regional (GEPAR/UFAL).
² Estudante do Curso de Geografia do Campus do Sertão/UFAL. Integra o Grupo de Estudos de Geografia do Trabalho, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Análise Regional (GEPAR/UFAL).
2. Breves linhas sobre (in)concretude da reforma agrária no Brasil
A estrutura agrária brasileira, alicerçada na ignominiosa concentração fundiária, derivou das relações sociais construídas ainda no período pré-republicano. Em 1850, a famigerada Lei de Terras, oficializou a privação do acesso às terras devolutas àqueles que não pudessem comprar. Assim, a maior parte da população brasileira da época, formada por negros recém-libertos e/ou na iminência da libertação e colonos empobrecidos se viram alijados do direito à reprodução individual e familiar através da posse de uma propriedade no campo.
O advento da república catapultou as tradicionais oligarquias do multissecular empreendimento monocultor escravocrata à condição de classe dirigente da sociedade pós-escravidão. Em outras palavras, não se verificou em nossa formação social, uma disputa de grande envergadura que confrontasse projetos hegemônicos distintos no seio da classe dominante brasileira. Como explicou, Martins (2010), a terra no Brasil substituiu a catividade dos negros, tornando-se objeto de apropriação privada e sinônimo de riqueza e de poder político.
A captura da maior parte da terra agrícola no país por meio de uma fração da classe dominante, historicamente imbricada com o latifúndio e com o trabalho escravo colonial, ensejou o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas na formação social brasileira de modo sui generis. Não houve reforma agrária, pois a burguesia brasileira se valeu deliberadamente da terra concentrada e do expressivo contingente de trabalhadores disponíveis para a superexploração da força-de-trabalho assalariada. Nesse sentido, diferente do que preconizou algumas organizações de esquerda, em meados das décadas de 1950 e 1960, a não realização da reforma agrária em nossa formação social não correspondia a uma tarefa em atraso e/ou inconclusa, senão à própria condição particular do desenvolvimento do capitalismo no Brasil.
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